domingo, 10 de julho de 2011

Educar com Arte

Por Priscila Genaro

Segundo Ferreira (2001) a arte é um meio de estimular o pensamento, por meio dela o 

indivíduo experimenta as diversas possibilidades da vida, ampliando-as. Diariamente os 

pensamentos fixam-se no prático e funcional, a vida rápida que a sociedade impõe hoje deixa 

poucas alternativas para o pensar criativo, para a reflexão. O ambiente escolar reforça esta 

atitude “prática” e os alunos aprendem a dar respostas prontas e rápidas. Os professores 

ensinam para o futuro, e o momento presente e os sentimentos vividos hoje são transformados 

a favor do conhecimento científico que seria utilizado no futuro. O ser humano, as emoções, o 

sentimento e a necessidade do agora são marginalizados na escola. O ensino por meio da 

arte, seja ela plástica, corporal ou poética incentiva o sentir, o viver o momento; o aluno divide 

com o colega os sentimentos e juntos aprendem a refletir sobre o que estão fazendo. O 

prático, o cotidiano e o metódico restringem a criatividade necessária para o desenvolvimento 

do homem como ser capaz de proporcionar possibilidades de resoluções de problemas bem 

como suas  possíveis soluções.
De acordo com Marin (1971) o pensar criativo é um meio de projetar para o futuro novas soluções, novos mecanismos partindo da ação de hoje, este pensar proporciona entendimento do homem e do mundo que o cerca. A sociedade elitista seleciona quem deve pensar, em que camada deve existir os pensadores, assim a escola deixa a arte reveladora de mentes em segundo plano, sem importância nos currículos, esquecida e transformada em aulas de desenho geométrico, artes manuais, ou ainda, aulas de arte modelista (desenhar e pintar à partir de um modelo), em que o aluno mais uma vez reproduz o que o professor lhe oferece. A sua criatividade fica engavetada, reclusa por uma escola que deveria abrir mentes.

“O aprendizado é mais do que a aquisição da capacidade de pensar, é a aquisição de muitas capacidades especializadas para pensar sobre várias coisas”. (Vigotisky,1974)

Para Vigotsky a aprendizagem ocorre da regulação social, a criança interage com o meio, este lhe oferece informações que contrapõem as informações pré-concebidas, reformulando-as e ampliando-as. Assim podemos afirmar que a escola deve ser um local em que o aluno vivencia o maior número de
experiências possíveis.

“Aprender a expressar conhecimentos e sentimentos na forma de imagens, sons, gestos e movimentos requer dos alunos a capacidade de concatenar idéias e habilidades.” (Almeida, 2001)

Marin (1971) argumenta que o ensino das artes proporciona ao aluno uma nova forma de ver o mundo, para produzir sons, imagens e movimentos o aluno deve estar sensível ao que ocorre ao redor, estar atento à cor, forma e espaço, perceber e explorar elementos e sua relação com as quantidades. Tais procedimentos são essenciais para o desenvolvimento global do indivíduo. A criança percebe o mundo a sua volta analisando e compreendendo. Esta compreensão se faz por meio das interações sociais, interagindo com o colega ou com um adulto as informações são processadas, assimiladas e ampliadas.

Nas considerações de Kowalski (2000) podemos perceber que o bom trabalho escolar resulta em propor ao aluno meios para que este se desenvolva globalmente, que se sinta capaz de realizações. Os trabalhos de grupo, as dramatizações, a dança, os corais possibilitam a auto-valorização, aumentando a competência do aluno e sua capacidade de realização. Quando o aluno participa de corais , peças de teatro ou dança, ele se sociabiliza, compartilha com o outro, entende as necessidades deste.

Buoro ( 2001) defende que o ensino da arte proporciona a criação, a inovação; a arte é propulsora de mudanças de reformulações e o artista, quer seja ele amador, aluno ou profissional, ao desenvolver um trabalho artístico rompe barreiras, desafia seus saberes. Quando se trabalha a visão artística em uma instituição é questionado o pensamento vigente, a forma de representação de uma realidade. A arte faz com que esta realidade não seja mais a mesma, pois, sofre uma interpretação crítica e transformadora. O artista ou aluno de arte ao fazer uma composição artística segue alguns preceitos: primeiro há a observação, depois reflexão, seguida da transformação do objeto em linguagem artística.

De acordo com Strazzacappa (2001) outro aspecto do ensino das artes, que antagonicamente se mostra conservador, é quando se ensina uma dança, uma música ou um poema a um jovem, se perpetua uma cultura e sua forma de expressão, pois, quem ensina certamente aprendeu com um outro e assim por diante. Esta perpetuação de culturas também tem sua dualidade: quando se escolhe "o que ensinar" entre muitos estilos e formas de arte, pode-se exaltar ou suprimir uma cultura. As classes menos favorecidas estão à disposição do que lhes é oferecido pelos meios de comunicação, restando poucas opções de escolha. O ensino da arte não pode restringir-se ao que é imposto pelos meios de comunicação, ele deve romper com este abismo que existe desde do início da sociedade entre os mais e menos favorecidos. As instituições ao trabalharem com a arte devem propor ao aluno todas as possibilidades de expressão artística. Só desta forma a criticidade é autêntica e o aluno poderá ter uma mente livre para a criação e representação de sua realidade.

Para Marin (1971) a visão de arte, segundo Platão, deve ser a base da educação. Sendo utilizada como ponto de partida para toda reflexão sobre o mundo e a vida. A arte na educação é o meio pelo qual o educador pode fazer com que seu aprendiz observe, represente e questione o mundo em que vive. Platão chamava a atenção para uma educação filosófica voltada para a livre criação, para a espontaneidade e desenvolvimento das capacidades criadoras, base para a formação
da personalidade.

A arte é um meio para despertar potencialidade e capacidade humana, de suprir a necessidade de se expressar de forma completa utilizando mais que a palavra. Diversos autores como John Dewey (1959) considera a arte como forma de melhorar o mundo, como principal meio de perpetuar a civilização. Por meio da arte é possível melhorar as possibilidades da educação técnica científica e literária. Dewey assinala dois objetivos para o ensino da arte:

·        O primeiro de aspecto pessoal, o indivíduo e o desenvolvimento da maturidade afetiva e emocional, suas sensações, impressões e percepções de seus instintos e conflitos internos e externos.

·        O segundo objetivo de aspecto social, por meio da produção artística o indivíduo estabelece regras, representa o mundo dentro de várias óticas diferentes, flexibilizando o pensamento característica necessária para o desenvolvimento social e democrático.

Todo homem deve se beneficiar da produção artística, mas não somente viver da arte, esta deve fazer parte de uma relação com sua atividade de vida. Dewey não considera a expressão artística como descarga de sentimentos, mas como clarificação das emoções.


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