sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Projeto: Ler é Saber



Professora: Priscila do Nascimento Genaro
Disciplina: Alfabetização
Duração: de março à novembro de 2010

Justificativa:
Ao longo de vinte anos lecionando para o ensino fundamental sempre me questionei do porque apenas uma minoria de alunos desenvolve o gosto pela leitura. Fiz  vários cursos e leituras para responder esta questão: Como formar leitores? Ler em sala de aula texto e livros interessantes, propor debates, rodas de conversa sobre as leituras, fazer empréstimos de livros e deixar disponível na classe materiais diversos no canto da leitura sempre foram práticas que compunham meu trabalho, porém sempre faltou algo que realmente atingissem os alunos e os mergulhassem no mundo da leitura.
Ao assumir uma das primeiras turmas de 1º ano do ensino de nove anos na rede municipal de São Paulo e ler o material sobre o ensino de 9 anos elaborado pelo MEC percebi que minha questão havia sido ampliada: Como formar leitores respeitando a criança em sua fase lúdica? Busquei em minhas memórias quando e como comecei a ler, o que me fez ser uma leitora e amante da leitura. Para minha surpresa percebi que não aprendi a ler na escola, mas com meu pai, lembrei dos momentos das minhas primeiras leituras junto dele e como suas intervenções e seu exemplo de leitor foram importantes para esta fase da minha vida. Recordei-me que o prazer não era ler, mas fazer algo que ele também fazia e ser reconhecida por isto. O comportamento leitor é transmitido através das interações sociais, no entanto apenas um ambiente estimulador não é suficiente, há a necessidade de que os momentos de leituras sejam prazerosos, que desde o principio esta leitura seja interativa, autônoma e gratificante, quem lê, lê para si e para alguém.   Assim nasceu este projeto o conjunto das minhas inquietações, lembranças e estudos na busca da formação do leitor competente, não um decifrador de códigos, mas também um agente que interage, questiona e atua autonomamente nas situações reais de leitura.

Objetivos:
A)         Desenvolver o comportamento leitor dentro e fora da escola;
B)         Desenvolver a proficiência leitora;
C)         Integrar a família no processo de desenvolvimento da leitura;
D)         Elaborar um caderno de leituras da turma.


Duração: De fevereiro a novembro de 2010.

Metodologia:
1º Momento: Para integrar os pais no trabalho e dar inicio ao projeto Ler é Saber, na primeira reunião do ano os pais assistiram ao clipe da musica “Um Amor Pra Recomeçar” de Frejat escolhido pelo grupo de professores para dar acolhimento aos pais dos alunos do 1º ano. A projeção foi realizada no pátio, depois na classe reli a música e propus uma reflexão sobre o novo, os medos e as ansiedades que todos nós naquela sala estávamos sentindo, eu com uma turma nova, eles pela primeira vez deixando os filhos naquele ambiente, as crianças pela primeira vez numa escola grande. Tudo era novo para todos, nós estávamos naquele dia começando um trabalho que seguiria para toda vida e propus aos pais que refletissem sobre como amenizar a ansiedade e colaborar para aprendizagem de seus filhos. Entreguei uma folha para cada pai para que escrevessem sobre o assunto, depois abri espaço para quem quisesse argumentar. Só após esta sensibilização falei sobre a proposta do projeto e como a participação deles seria importante neste trabalho. Nas falas dos pais e nos textos que escreveram percebi uma grande preocupação com o trato com o filho, noventa por cento dos pais desejavam uma professora atenciosa e carinhosa, cinqüenta por cento também expressaram sobre a necessidade de um bom desempenho na aprendizagem e no trabalho pedagógico, o restante escreveu sobre as necessidades particulares do filho.

2º Momento: Na primeira semana de aula ofereci as crianças uma caixa com quarenta e sete livros, entre eles livros de contos, de poesias, informativos, com diversos tipos de ilustrações, fontes e formatações para que manuseassem livremente, depois pedi para escolherem um para que eu lesse, li todos os livros da caixa um por dia, destacando o título, o autor, o ilustrador e quando o livro continha a biografia do autor também a lia. Ao contrario do eu pensava as crianças gostaram de ouvir sobre os autores, às vezes até queriam saber mais. Durante este momento que durou aproximadamente dois meses, fui percebendo qual era o interesse da turma, quais livros chamavam mais atenção, como os manuseavam, a maioria das crianças manipulavam o livros de qualquer lado sem se preocupar com direção correta da leitura, ficavam atentos apenas aos desenhos. Percebi depois que se interessavam mais pelos livros que já tinham sido lidos, a principio pensei que era por estes serem os mais coloridos, mas ao passo que lia outro este entrava para a lista dos disputados para a “leitura” (coloco entre aspas, pois neste momento nenhum aluno ainda sabia ler convencionalmente).

3º Momento: Quando acabamos de ler todos os livros da caixa perguntei o que achavam de levar os livros da caixa para ler com a família em casa, houve muita empolgação, algumas crianças comentaram que seus pais gostavam de ler, outras que não tinham livros em casa. Apresentei a eles a pasta amarela que confeccionei em EVA, dentro continha um caderno de desenho que também encapei com EVA e na primeira pagina colei informações aos pais de como ler e fazer a atividade com o filho. Expliquei que para não esquecermos das leituras faríamos os registros naquele caderno que seria usado por toda turma, cada dia um aluno escolheria um livro da caixa e levaria para casa na pasta, leria o livro com a família e registraria o nome do autor e do ilustrador, faria um desenho sobre a leitura e no dia seguinte contaria aos colegas como foi ler em casa. Nesta fase do trabalho as crianças ainda estavam muito tímidas, ficavam inibidas para falar como foi o trabalho em casa, desta forma necessitavam de estímulos que eu fazia com perguntas que respondiam com pouca eloqüência, gostavam de mostrar o desenho receber os aplausos dos colegas e de entregar a pasta para o próximo, que passaram a fazer quase como um ritual. Depois eu apontava o autor e o ilustrador e lembrávamos da história, porem não a líamos novamente apenas a comentávamos.

4º Momento: Depois que todos levaram a pasta para casa, começamos a segunda rodada de leitura, desta vez além relatar como foi fazer o trabalho teriam de contar e mostrar qual trecho do livro mais gostou. Nesta fase as crianças estavam com mais desenvoltura e para minha surpresa e alegria várias crianças apontavam o autor e o ilustrador com total autonomia. O processo todo se repetiu.

5º Momento: Na terceira e última rodada de leituras as crianças se sentiam totalmente à vontade com os livros, a maioria da classe já estava lendo, mas o que mais me impressionou eram os comentários durante a apresentação, comparavam as histórias, até mesmos os autores, argumentavam quando algum colega citava algo que um outro já havia lido ou comentado. Algumas crianças leram trechos dos livros além de comentarem até uma delas leu o livro inteiro ao final  falou: “Adoro ler!”

5° Momento: Ao final da terceira rodada já tínhamos dois cadernos ricamente ilustrados. As crianças adoravam olhar as imagens e comentar quem tinha feito e de qual livro era cada desenho. Assim propus as crianças de transformar nosso caderno em um livro, conversamos sobre como poderíamos fazer isso, concluíram que teríamos que levar a uma editora e que isto seria muito difícil. No dia seguinte levei para classe as minhas monografias expliquei como as fiz, disse que não era um livro, mas parecia e que poderíamos fazer o nosso livro de leituras do mesmo jeito. Adoraram a idéia e listamos o que faltava para completarmos o nosso livro: dedicatória, introdução, conclusão, biografia dos autores, bibliografia. Fizemos dedicatória e introdução com textos coletivos, depois cada criança fez a sua conclusão falando sobre o livro que mais gostou e a auto biografia. Fiz a revisão dos textos individualmente. Na classe tem dois alunos com deficiência mental, um leve que ajudei a escrever os textos, já o segundo a deficiência é severa desta forma eu mesmo escrevi de acordo com que percebi de suas preferências em relação aos livros. Também coloquei uma segunda introdução contando como foi o trabalho e algumas fotos e mandei encadernar com capa dura amarela.

6º Momento: Para finalizar o projeto fizemos o Festival de leitura, no qual cada criança leu convencionalmente ou contou a história do seu livro preferido e foi apresentado à turma o livro amarelo Ler é Saber. As leituras foram filmadas e os filmes transformados em DVD, cada criança recebeu uma copia de sua primeira leitura e o livro amarelo foi digitalizado e disponibilizado para quem quisesse ter uma cópia.

Avaliação: O projeto foi avaliado diariamente, cada criança que apresentava sua leitura eu fazia registros de possíveis inferências e mudanças nas argumentações e estratégias para que o objetivo de estimular o gosto pela leitura fosse alcançado, a caixa de leitura ficou disponível por todo tempo das aulas todos os dias, além da caixa com livros, gibis e revistas também estavam à disposição, saímos varias vezes para fazer leitura no jardim da escola principalmente no inverno, pois a sala de aula era muito gelada, assim pegávamos tudo e líamos ao sol, todos os dias fazíamos a leitura de algum livro, com o passar dos dias as crianças começaram trazer livros da sala de leitura da escola para que eu  lesse para elas, que foi muito interessante pois alguns eu não conhecia outros já havia lido para meus filhos e os alunos adoravam quando traziam algum livro e eu contava qualquer coisa que já havia se passado comigo e aquele livro, como quando trouxeram o livro Marcelo, Marmelo Martelo e comentei que foi o primeiro livro que li sozinha, depois deste comentário toda a turma queria lê-lo. O projeto foi muito além do esperado as mães comentaram que adoraram ler os livros e que outros filhos também participavam das leituras, a professora orientadora da sala de leitura também comentou que esta turma fez mais empréstimos de livros em comparação as demais turmas de primeiro ano e nas suas aulas os comentários eram mais maduros e incisivos em suas colocações também comparando com as outras turmas do mesmo ano ciclo. Em cada etapa do projeto era visível o progresso e a assimilação do comportamento leitor, primeiramente passaram a manusear os livros da forma correta virando as folhas da direita para a esquerda, depois passaram perceber o texto passando o dedinho da esquerda para a direita mesmo antes de fazerem a leitura convencional, depois começaram ter preferências por certos tipos de leituras, autores e a fazerem comentários sobre outras leituras que fizeram fora do projeto.   Ao final de novembro apenas seis crianças de trinta e duas não estavam lendo convencionalmente, entre elas duas com necessidades especiais. Para estas duas crianças foram feitos pequenos ajustes, os dois participaram como todos os outros alunos, em casa os pais ajudavam e na classe faziam a apresentação com meu auxilio e dos demais alunos. Isso foi o que mais gostei neste trabalho, o projeto respeitou a processo de cada aluno, todos participaram dentro de suas possibilidades e estas foram crescendo e evoluindo naturalmente até chegar ao objetivo proposto, mesmo os que não estavam lendo fluentemente se apropriaram do comportamento leitor, respondi a questão que há tantos anos eu buscava a solução, não se forma o leitor mandando-o ler, mesmo que esta leitura seja interessante, mas lendo com ele e se deliciando com a leitura. Não os peguei no colo para ler como meu pai fazia, mas sentei no chão e ri e me emocionei com cada leitura junto deles.

Link para baixar ou ler o livro de leituras da turma:
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